sexta-feira, 29 de março de 2013

Uma Páscoa com mais sabor


Passada a primavera do diagnóstico e toda uma avalanche de informações novas, a pessoa com diabetes e sua família têm um grande evento pela frente: a Páscoa. Acredito que ela seja a festa mais temida, principalmente pelos pais de crianças com diabetes, em função das suas tradicionais e infinitas guloseimas. Ovos de Páscoa, balas, bombons, amendoins crocantes, pirulitos, etc., estarão não só ao alcance de nossos filhos como serão oferecidos a eles, inclusive em forma de presente, até por pessoas muito queridas. Então, a cesta de Páscoa passa a ser um tormento, mesmo para aqueles que já contam carboidratos.

            Com o passar do tempo (e pode ter certeza, ele nos ensina muito) aprendemos que tudo o que era de grande importância, como as guloseimas, passa a ter um outro sentido. Não é a cesta grande e recheada que deve prevalecer, mas sim a mensagem que este ovo (símbolo do novo, da nova vida) representa.

            Já me angustiei muito nas primeiras páscoas. Agora, me preocupo com o que ela deve significar para os meus filhos. Abundância, exagero? Não. Partilha, convivência, generosidade? Sim. Comemos chocolate na Páscoa. Comer chocolate é muito bom, em todas a suas versões, bombons, trufas, barras... Mas o chocolate da Páscoa, desta nova Páscoa, perde em quantidade e ganha em qualidade e sentido. Abrimos um ovo de chocolate e comemos em família. Não tem mais essa de que este ovo é meu e esse é teu. Aqui os ovos e chocolates são de todos. São partilhados, divididos, saboreados pela família inteira. 

Para viver essa nova e especial Páscoa precisamos recuperar os seus principais valores. Liberdade, transformação, renascimento, são algumas das mensagens pascais. Assim como o sacrifício também. Talvez a saída para este momento seja viver na prática estes ensinamentos. Ao invés da busca ao ovo de chocolate, que tal marcar um belo passeio ou quem sabe uma viagem em família. No lugar de doces tradicionais, por que não montar uma cesta também com produtos saudáveis para todos? Ao contrário dos anos anteriores, pense em um presente diferente. Devemos ser criativos, e buscar alternativas para este momento de nossas vidas, capaz de nos libertar de velhas práticas, partindo por um caminho novo, onde cuidaremos não só melhor de nossos filhos como de nós mesmos.

Feliz Páscoa!!´
É o que deseja a Família Tipo 1
 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Diabetes, e daí?



Nossa pequena decidiu trocar de médico. Disse que não gosta mais do seu endócrino, e quer mudar. No início até relutamos um pouco, tentando convencê-la do contrário, justificando que ele é muito bom, um dos melhores. Mas de nada adiantou, ela está decidida. Falou que não irá mais em nenhuma consulta com ele. Tenho certeza que ele entenderá. Primeiro porque é um médico sensível, e vive em sua família a realidade diária do diabetes tipo 1. Segundo, porque ele sabe que o paciente crônico tem fases boas e ruins, de aceitação e rebeldia. E terceiro, porque ele respeita a decisão dela, deixando a porta aberta, para quem sabe um retorno amigável e reconciliador. Digo reconciliador, porque ele na última consulta, além de chamar a atenção dela para algumas atitudes em relação a alimentação (o que  atualmente ela não gosta), mas que é o papel dele, fez a colocação, que nenhuma pessoa com diabetes gosta de ouvir: “no caso de uma pessoa normal a glicemia é tanto, no caso dela a glicemia...”. Isso bastou para ela não querer voltar, nunca mais. E ele se deu conta. Na consulta posterior, só comigo e meu marido reconheceu que pisou na bola. Eu disse, ele é sensível. Ele sabe que não se diz pessoa normal, se diz pessoa com diabetes, ou pessoa sem diabetes. Principalmente para um pré-adolescente, que pega tudo ao pé da letra. Raciocínio da minha filha: “Eu sou normal, e não vou mais num médico que me trata como se não fosse!!”.
            Bem, depois deste evento partimos para a etapa seguinte: achar um novo endócrino.  Com três nomes apresentei uma delas para a minha filha dizendo: “Ah, esta médica também tem diabetes tipo 1, desde pequena.” Resposta da minha filha: “E daí?”. Falei: “Ah, é porque ela vive o diabetes também, pode te entender mais...” (como se isso desse garantias de ter um bom currículo, ou de ela ser uma pessoa melhor). Bobagem.
            Enfim, o que eu quero falar hoje, com estes dois relatos, muito pessoais e particulares, é que o diabetes não torna ninguém especial, melhor, pior, anormal, ou um super herói. E foi isso o que minha filha entrelinhas disse ao seu médico: “peraí, eu sou normal, eu sou como todo mundo. Eu só tenho diabetes.” E quando eu diferenciei a médica com diabetes dos demais, ela de novo disse: “peraí, mãe! Isso não faz dessa médica uma pessoa melhor do que os outros, isso não a torna especial.” E ela tem razão. Não somos nós mãe e pais que vivemos dizendo que nossos filhos são como todas as outras crianças - principalmente na escola - que podem fazer tudo o que as outras crianças fazem, e que poderão ser o que quiserem na vida. Então, porque agora eu ainda caio na armadilha de tornar o diabetes um diferencial na vida dela e das outras pessoas.
            O diabetes não deve ser motivo para fazer ninguém especial. Pelo simples motivo de que ser especial cansa. Ter diabetes é pra vida toda. Ser especial a vida toda é uma chatice, pesa demais. Por isso, minha filha comunicou, do jeito dela, que ela não é uma pessoa fora da norma, diferente, especial. Ela só tem diabetes. E que essa nova médica não é melhor que os outros, ela também só tem diabetes.
            As coisas podem ser um pouco diferentes, estressantes, cansativas, mas todos continuamos, na nossa essência, os mesmos. Se éramos engraçados antes, continuaremos fazendo graça, mesmo com diabetes, e do diabetes. Se tínhamos medos, eles continuarão a nos acompanhar, mesmo com diabetes. Se éramos corajosos, continuaremos enfrentando tudo de frente. Se precisávamos de colo, ainda vamos continuar pedindo carinho. O diabetes entra na nossa vida sem pedir licença. Mas ele não pode ser a nossa vida. A nossa vida quem faz somos nós, com ou sem diabetes.
Um grande abraço...

(O título dessa postagem é em homenagem a minha grande amiga Dani Yumi, que me ajudou a compreender esse novo normal que é viver com diabetes.)

segunda-feira, 4 de março de 2013

Pré-adolescência e diabetes


Filhos crescidos, trabalho dobrado. É o que diz a sabedoria popular. Filhos crescidos com diabetes, trabalho triplicado. Diz a sabedoria mais popular aqui de casa. Quando minha filha foi diagnosticada com diabetes tipo 1, aos 7 anos em 2009, ela brincava de boneca e pega-pega. Aprendeu rápido a medir a glicemia e aplicar insulina na escola, e adaptou-se bem às novas recomendações na alimentação. Raramente reclamou do tratamento diário que lhe foi recomendado do dia para a noite.

O tempo passou e, nesses três anos de vivências com o diabetes, todos aqui em casa aprendemos muito. Minha filha, como é o natural da vida, cresceu. De criança passou a pré-adolescente, com todas as características inerentes a esta fase. Respostas na ponta da língua, contrariedade, mau-humor, preguiça, devaneios, questionamentos, e, é claro, determinar que música vamos ouvir no carro.

Tudo isso está dentro do esperado. Mas o que fazer quando temos que administrar o diabetes nesse turbilhão chamado pré-adolescência?
Primeiro, temos que nos adaptar as variações hormonais. As doses de insulina devem ser revistas pelo médico, em alguns casos até semanalmente. A dieta também precisa ser reelaborada. Fase de crescimento e ganho de peso, muito comum principalmente nas meninas. A atividade física pode ser mais exigida. Se antes era lúdica, agora pode ganhar dias e horário fixos. Futebol, vôlei, dança e natação são boas opções para estimulá-los.

E como gerenciar o emocional? Eles também têm dias ruins. São maiores e mais frequentes as oscilações de humor. Nem sempre moderar a alimentação e fazer o controle da glicemia serão prioridade para eles. Não fazer correções, nem medir a glicemia acontecerão muitas vezes. Principalmente, quando estiverem fora de casa. Nessas situações, ameaçar ou falar sobre as complicações não vai ajudar. Os pré-adolescentes vivem o hoje, não estão preocupados com um futuro remoto e distante. O mais indicado é mostrar que eles são responsáveis pela saúde deles, deixando claro que é necessário aplicar insulina e medir a glicemia fora de casa. Promover e incentivar a independência do controle do diabetes deve ser praticado diariamente pelos pais. Isso mostra confiança e compreensão. Também é importante elogiar quando eles acertam no controle sem nossa supervisão. Todos nós gostamos de apoio e incentivo quando temos uma tarefa desafiadora. Mas também, admitir que não é fácil, ou seja, se colocar do lugar do seu filho, é um bom exercício de proximidade. Isso vai trazer um pouco mais de leveza nessa fase tão intensa.
Um abraço e boa semana!