sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Irmãos


Observando meus filhos aprendi como é bonita a relação entre irmãos.
Com meu irmão eu vivi isso, não fiquei analisando ou medindo. Simplesmente vivi, com amor e raiva, com afeto e desavença, com cumplicidade e impaciência, com carinho e distanciamento. Agora, acompanhar a relação da Catarina e do Miguel é diferente. É participar da construção da história mais bonita que existe numa família: o vínculo entre irmãos.
Por aqui, o diabetes chegou antes do Miguel. Mais ou menos com uns dois meses de diferença. Portanto, aplicar insulina, medir glicemia, contar carboidratos faz parte da vida do nosso caçula. Essa rotina é dele também. Desde o dia em que ele nasceu acompanha a irmã com devoção e adoração, em tudo o que ela faz. Observa atentamente. Não perde um detalhe.

Pois bem, dia desses ao ver a irmã aplicar insulina após o almoço, ele pede, do seu jeitinho, para que façamos nele também. Logo a Catarina tirou a agulha da caneta e fez de conta que aplicava na barriga dele. Adivinha? Ele adorou! Foi como se agora ele fizesse parte do time, autorizado a entrar em campo, recebendo as bençãos da irmã. Desde então, guardamos uma caneta vazia para quando ele quiser “fazer” a insulina dele.

A atração de Miguel pelas coisas da irmã começou cedo. Quer pegar o estojo do glicosímetro, corre para mexer no lancetador, fica torcendo que algo caia no chão. Como um cachorrinho que espera por migalhas embaixo da mesa.

Fiquei pensando em como é importante o apoio que um irmão pode dar ao outro. Comendo coisas mais saudáveis, aprendendo a cuidar, se interessando pelas coisas do irmão, participando. E como pode ser difícil, quando temos que mudar os hábitos com toda a filharada porque para um deles isso é vital.

Não sei como será daqui pra frente. Sei que agora eles formam não uma dupla, mas um time.

Abraço, Simone.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Diabetes e sentimentos bons



O diabetes também faz a gente sentir coisas boas.
Junto ao baú pesado do sofrimento, que carrego desde o diagnóstico, vejo que posso carregar também um punhado de balões de gás cheios de alegria, orgulho,  felicidade. Sempre há espaço para momentos bons, mesmo atolados por dificuldades.
Há um tempo venho carregando meus balões, mas só hoje resolvi escrever sobre eles.
Ontem as 21:30hs minha filha querida entrou num ônibus para viajar por nove horas, junto com sua avó, para passar quatro dias de férias na casa da Bisa, no interior mais longínquo do estado.
Arrumou suas coisas feliz e saltitante. Planejamos e conversamos sobre como se cuidar sem papai e mamãe por perto, como fazer escolhas saudáveis, como agir em caso de hipo e hiper, como aproveitar tudo com tranquilidade. Enfim, falamos em como ser responsável pela sua saúde aos 9 anos de idade.
Fácil para muitos. Para a Catarina isso envolve alguns cálculos matemáticos e itens de bagagem a mais, como insulina e glicosímetro.
Ela está numa fase de querer autonomia, saber sozinha como se virar, disposta a aprender. Quem não deseja isso aos nove anos?
Se foram, ela e sua avó, confiantes.
Eu fiquei, cheia de orgulho em vê-la crescer, com todos os percalsos inerentes à vida.
Sentimentos bons. Acho que juntos se chamam felicidade.
É com eles que encho meus balões todos os dias. Com o gás nobre da vida, uma mistura de alegria, orgulho, afeto, carinho, esperança, respeito...e o que mais a gente conseguir.
Abraços, Simone.