sábado, 26 de março de 2011

A cura está aí

A última consulta com o endócrino da Catarina foi muito interessante, por vários aspectos.
Primeiro, como havíamos consultado com a nutricionista dias antes, dúvidas de alimentação não ocuparam nosso tempo. Isso foi muito bom.

Segundo, acertamos depois de alguns cálculos, as doses de insulina. A Catarina estava apresentando glicemias altas sem entendermos o motivo, pois calculávamos (CHO x UI) e não fechava duas horas depois. Bem, a basal permanece como estava.
Devemos observar por alguns dias a alimentação, e em alguns horários como o café calcular 12g de CHO/1UI. No almoço e janta ficamos com 15g de CHO/1UI. No lanche da escola varia conforme as atividades físicas ou tipo de alimentação.
Antes ela estava fazendo 15g de CHO/1UI no café e 20g de CHO/1UI no almoço e janta.

Então a partir destas mudanças vamos observando, ajustando, calculando, coisas que nós pais já estamos acostumados, mas sempre é uma retomada com o crescimento dos filhos.
O mais importante de tudo é continuar observando como o corpo da Catarina reage aos alimentos e tentar mesclar, fibras, proteínas e carboidratos. A nutricionista deu dicas boas para colocar mais fibras nas refeições. Coisa que já sabíamos, mas com o tempo vamos relaxando. (meta para esse ano: ir uma vez por mês na nutricionista).

Terceiro, a gente acaba fazendo um pouco de terapia com o médico, sim porque a gente precisa falar e repetir o que já sabia, pedir mais explicações, retomar dúvidas, e como não bastasse, falar do futuro da medicina em relação ao diabetes. Nesse momento sempre surge o tópico “cura”. Novas pesquisas, novas descobertas, o que há de novo sendo testado, enfim.
O que foi interessante dessa vez, pra mim é claro, é que o médico da Catarina foi categórico e disse: "a diabetes já tem cura, e o nome dela é insulina".
Por alguns segundos eu fiquei paralisada, digerindo aquela informação.
Aos poucos fui compreendendo o que ele tinha dito.Sim a insulina está aí, graças ao estudo e dedicação de dois grandes homens que receberam o prêmio Nobel de medicina de 1923: Macleod e Bantting.
Realmente ele tinha razão. Sem insulina minha filha não poderia ir ao colégio, brincar, pensar, caminhar, viver.

Sempre estaremos angustiados, sobrecarregados, exaustos, correndo atrás do prejuízo (uma hiper ou hipo que nos diga), mas nossos filhos estão aí, vivendo e muitas vezes mais saudáveis que muita criança sem diabetes, que se empanturra de gordura trans e açúcar.

O nosso querido endócrino ainda nos mostrou uma foto do paciente que recebeu a primeira dose de insulina. Leonard Thompson, era o nome dele.
E até agora não me sai da cabeça a expressão do rosto da mãe segurando seu filho no colo, uma criança em sofrimento. Ao lado a foto da mesma criança meses depois do tratamento da insulina.
Realmente me convenceu, a cura já está aí.
Tudo depende de como encaramos.
Quem quer olhar a foto aqui está o link: http://www.marguitos.kit.net/saude/diabetes.html#caracterizacao
Abraço, Simone.

sábado, 19 de março de 2011

Desabafo

Andei reparando que, se você partilha alguma coisa da sua vivência, que não seja algo feliz e agradável - hoje todos devemos ser felizes, bonitos, perfeitos e saudáveis - as pessoas se angustiam.
Ficam agitadas, falam sem parar, te dão mil dicas, tem receitas infalíveis, curas milagrosas, recomendam especialistas que elas conheceram semana passada no google, e assim vai.

Como se não bastasse você já ter mil cuidados, por viver uma condição especial, essas pessoas, conseguem, ou tentam pelo menos, colocar mais minhocas na sua cabeça.

Sempre ouvi desde pequena: “se não for ajudar, também não atrapalhe”.
Boa lição essa. Muitos já esqueceram.

Tudo o que se quer no sofrimento e na dor (sim, eles existem), na angústia, no medo ou na solidão é um pouco de presença e escuta.

Nada de palestras ou discursos. Isso se tem de sobra dos endocrinos, nutricionistas, pediatras, psicólogos, dentistas, oftalmos... (ufa! nossa lista é grande).
Ofereça um pouco da sua escuta, do seu tempo, seu ombro.
Isso sim vai ajudar bastante.

O silêncio e a companhia tem poderes terapêuticos inacreditáveis.
Não só para quem recebe, mas também para aquele que oferece.

Como diz a letra da música Meu Coração do Arnaldo Antunes:
e todas as pessoas que falam pra me consolar
parece um bocado de bocas abrindo e fechando sem ninguém pra dublar...”

Para aqueles que estão dispostos a escutar aqui vai o link para a música completa:
Beijos, Simone.

segunda-feira, 14 de março de 2011

De mães e filhos

Recebi esta mensagem do site http://www.diabetenet.com.br/, e ela me tocou, talvez porque nesse momento vivo diariamente a experiência única de aprender a medida saudável de deixar os filhos crescerem.


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Como fazer um amor durar

Uma jovem mulher e sua filha caminhavam pela praia. Num certo ponto, a menina disse:
- Como se faz para manter um amor?
A mãe olhou para a filha e respondeu:
- Pegue um pouco de areia e feche a mão com força.
A menina assim fez e reparou que, quanto mais forte apertava a areia com a mão, com mais velocidade a areia escapava.
- Mamãe, mas assim a areia cai!!!
- Eu sei, agora abra completamente a mão.
A menina assim fez, mas veio um vento forte e levou consigo a areia que restava na sua mão.
- Assim também não consigo mantê-la na minha mão!
A mãe, sempre a sorrir, disse:
- Agora pegue outra vez um pouco de areia e mantenha a mão um pouquinho aberta, como se fosse uma colher: fechada o suficiente para protegê-la, mas aberta o bastante para lhe dar liberdade.
A menina experimentou e viu que a areia não escapava da mão, pois estava protegida do vento. A mãe concluiu:
- É assim que se faz durar um amor.


Essa areia (amor) pode muito bem representar nossos filhos.

Por vezes, querendo protegê-los, colocamos tanta força, que nos escapam.
Como a menina que aperta a areia nas mãos.

Ou, então, os soltamos bruscamente no mundo, tão faminto por independência e autosuficiência (traduzindo: precocidade).

Se conseguirmos proteger sem sufocar, na medida das necessidades deles - sim porque cada criança tem sua personalidade e características, que as fazem únicas (detesto rótulos, tão usados hoje para tratar das crianças) - daí, talvez, quem sabe, com sorte, um pouco de intuição e paciência, a gente consiga fazer com que eles cresçam, sabendo que podem contar com a nossa mão protetora, “fechada o suficiente para protegê-los, mas aberta o bastante para lhes dar liberdade.”

Se quiserem receber mensagens como esta é só se cadastrar no site. http://www.diabetenet.com.br/

quinta-feira, 10 de março de 2011

Geleia da Vovó!

O primeiro título que pensei para esta postagem era “chimia da muta”. Mas como muita gente não entenderia, resolvi traduzir. “Chimia” ou, como outros preferem, “schimier”, significa geleia. Isso no alemão falado pelos descendentes de imigrantes que vivem no sul do Brasil. Já “muta” ou “muter” quer dizer mãe. Então, na casa dos meus avós paternos, dos meus pais, dos meus tios e também dos meus primos, “chimia da muta” eram aqueles doces de frutas maravilhosos feitos pela nossa vó Lori, que tanto marcou a nossa infância. Memória de sabores que jamais esqueceremos.

Quando o diagnóstico do diabetes chegou, a gente saiu cortando todos os doces. É óbvio que isso implicou no corte da geleia até então consumida, todas as manhãs, principalmente por mim. Agiamos na ilusão de que bastava eliminar o açúcar. Logo aprendemos a importância de contar os carboidratos. Hoje sabemos que para Catarina, o consumo de batata inglesa ou de um pão de queijo, por exemplo, sobe mais rápida a glicemia do que na ingestão de açúcar.

Aprendida a contagem de carboidratos, passamos a ler todos os rótulos dos alimentos, dando então preferência para aqueles que têm pouco carboidrato e mais fibra. É claro que isso aumentou o trabalho na hora das compras, exigindo outro ritmo, já que agora não basta mais olhar preço e sabor. Mas aos poucos, pegamos prática, e conseguimos descobrir melhores alimentos, mais saudáveis e com menos carboidrato.

Para minha surpresa, encontramos uma geleia excelente, muito saborosa e com baixíssimo carboidrato por porção. É a Geleia Zero Açúcar da Ritter.
A de morango só tem 1.9g de carboidratos por porção de 20g (ou por colher de sopa). É muito pouco, ainda mais quando comparada com os outros doces de frutas.

Assim, pude retomar o meu velho hábito, consumindo agora uma geleia com baixíssima quantidade de carboidratos. Mais uma adaptação aos novos tempos, que ainda traz a memória do sabor da “chimia da muta”. Pequenas compensações que valem muito a pena.

Por Ricardo Vollbrecht

sábado, 5 de março de 2011

Passar o dia fora

Como faz pouco que nos mudamos para a capital, aproveitamos o feriado de carnaval para visitar os amigos do interior.
A Catarina programou de passar o dia na casa da sua babá (relações afetivas da infância deixam marcas para a vida toda).
Então, o passar o dia fora exige uma organização. Insulina, glicosímetro, balinhas pro caso de uma hipo...
Eu sugeri para ela levar o celular também, para na hora do almoço ligar e me dizer quanto deu a glicose e o que ela comeu, para assim eu calcular quanto de insulina rápida ela teria que fazer.
Ela me disse bem assim: "Ah, mãe! Não vou levar nada. Eu vou fazer e vejo quanto precisa, deixa eu tentar!!".
"Ok", eu falei.
É uma ótima oportunidade para ela ir aprendendo, pensei, numa fração de segundos, que nos exige mais intuição do que raciocínio. 
Assim se apropriando, acertando, errando.
A gente não aprende assim? Tentaviva e erro? Às vezes muito mais erros que acertos...
A Catarina quer aprender, quer se virar sozinha. Isso é maravilhoso!!
Mas o coração fica acelerado... coisas de mãe.

terça-feira, 1 de março de 2011

Texto da Professora

Esse relato foi escrito por um anjo que dá aula lá na escola da Catarina, e que ano passado recebeu nossa pequena com muito afeto.
Profe Amanda: muito obrigada por tudo!

" Mudanças: de Catarina para nós

No meio de uma tarde de estudos com meus alunos do segundo ano, batem à porta e ao abrir encontro Catarina e sua bela família sorrindo. Já haviam me avisado que uma aluna nova iria integrar o grupo após as férias de julho e eu estava curiosa para saber quem seria, pois adaptar uma criança no meio do ano nem sempre é fácil.
Minha principal preocupação era com os conteúdos, por nem sempre estarmos na mesma organização que as demais escolas. Para isso comecei a elaborar materiais de testagens sutis e imaginar o que poderia ser feito para aproximá-la de nossos projetos. Confiava muito no grupo para o acolhimento de Catarina, mas sempre que existia espaço, parávamos, enquanto grupo, para refletir sobre a chegada dela e sobre as maneiras de recebê-la bem.
Catarina me olhava, ao lado da porta, fixamente nos olhos, diferente de muitas crianças que sentem medo imediato do adulto ou professor novo. Com um sorriso tímido, deixou-me alegre em perceber sua simpatia. Era o primeiro momento de visita, onde a apresentei rapidamente ao grupo que também estava curioso para saber quem seria a nova amiga.
Passaram-se as férias e no retorno lá estava Catarina, com seu olhar firme, entrando logo na fila para caminharmos lentamente até a sala de aula. Nas atividades de integração, percebi que ela havia se preparado da mesma maneira que nós para essa mudança. Mas na vida dela muitas mudanças estavam acontecendo: colégio, cidade, colegas, professora, casa e família … sim, Catarina receberia em dois meses um novo e único irmão. Além disso, a descoberta recente desta nova companheira: a diabetes. E eu precisava desempenhar a minha parte nesta história: ajudá-la a se integrar na escola, na turma, com seus novos amigos.
Até aquele momento tinha recebido informações sigilosas do colégio sobre a diabetes tipo 1. Porém, não sabia de muita coisa e logo marquei um horário com os pais, que me deram todas as informações possíveis e alguns sites para me informar. Na primeira semana li tudo que podia à respeito e me cadastrei em um site que me manda mensagens diárias até hoje. Eu queria ser fundamental na vida desta criança, que aos meus olhos, enfrentava com firmeza uma situação que para muitos é sinônimo de lástima.
O ano corria e eu queria muito que ela formasse laços com os colegas. Em pouco tempo estava tão integrada que passou a falar nas intenções de oração os seus sentimentos sobre as tais mudanças, exceto uma. Todos escutavam aquela menina de voz meiga e olhar firme com admiração, pois ela se colocava em todas as situações, sempre na intenção de ensinar tudo que já tinha vivido.
Questões, inclusive, de expor ou não algo que era cotidiano em sua vida: as medicações e aplicações; como ela tinha resolvido não contar aos colegas o que fazia diariamente na enfermaria e porque não aceitava lanches, entre outras. Comecei a criar códigos para lembrá-la de fazer a testagem e aplicar se necessário, para passar a medição, informar de quanto aplicou, sem que seus colegas ficassem sabendo…
Cada semana, num olhar, criávamos um código. As vezes, ela simplesmente sorria, pegava seu estojo e saia da sala para se medicar. E quando algumas colegas mais próximas perguntavam o que ia fazer, “combinávamos” que iria no banheiro fazer higiene. Em seguida, junto da família, Catarina decidiu que deixaria um estojo na enfermaria, assim poderia sair sem chamar a atenção.
O tempo passou.
Depois de muitas vivências e o fortalecimento da amizade, percebo um grupo de meninas vindo do pátio reclamando sobre um suposto segredo que Catarina havia confiado somente à uma colega.Eu sabia que logo que um segredo é confiado à uma pessoa, ele deixa de ser segredo. Mas precisava mediar a forma com que ele chegaria aos demais colegas, e principalmente, como Catarina enfrentaria essa situação?
Fiz uma intervenção discreta, relacionando sobre qualquer assunto, com o objetivo de desconstruir aquele bolinho de meninas. Quando todos pareciam envolvidos com os estudos, me aproximei de Catarina como quem fosse corrigir o caderno e perguntei a ela como seria se todos ficassem sabendo. Ela me olhou com aqueles grandes olhos e disse: - Tudo bem, profe, elas logo vão saber mesmo.
E logo souberam. Catarina percebeu que poderia ensinar ao dividir com o grupo seus aprendizados sobre como o amor cresce dentro de um lar que recebe um novo integrante, sobre uma boa alimentação, sobre uma nova informação que pode mudar seu esquema de vida e também pode nos transformar em pessoas mais humanas e atentas ao valor de uma vida bem vivida"